Carolina C.

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Sou influenciada a escrever por tudo o que ouço,toco,vejo,sinto e leio. E por lembranças também, portanto a autoria é das projeções do meu mundo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dona Cecília e o fruto perdido

Cheia de si, inexistente sua modéstia
Dona Cecília, saía para os salões
Toda coberta, mas nua nas festas
Apreciava desmanchar corações

Seu futuro já estava feito
Seria engolida por joias
Casaria-se com um prefeito
Nem precisaria de tramoias

Num desses salões escuros
Encontrou o prefeito
Não era belo, muito moribundo
Mas tornou-se seu par perfeito

Dona Cecília esnobava sua sorte
Chamava-se primeira dama
Apenas pois ao seu lado estava o lote
Que não recebera por sua fama

Ao receber muita verba
O prefeito decidiu viajar
Lá para os pampas, direto na terra
Com sua noiva casar

Chegaram de charrete
Na lama do lugar
Viram brincar as pestes
Sujando-se, gritando sem parar

De primeira, Dona Cecília desaprovou
Não era acostumada a natureza
Nascera na cidade, "Caipira não sou"
Então tudo aquilo virou estranheza

Instalaram-se em uma Caaba
Mas era feita de palha
Cama chata
E a comida rala

Passaram a conhecer a terra
As árvores e trabalhadores
Boa gente, mata de serra
Mas tudo dava fruto, esplendores

O prefeito se distanciou
E Dona Cecília andou sozinha
No meio das mata alta, encontrou
Um chapéu iluminado pelo raio de luz, cores nítidas

O chapéu levantou-se
E apareceu um rosto moreno, suado
Dona Cecília, seu cheiro agridoce
Do trabalhador, cravo

Os dois se intimidaram
Mas trocaram sorrisos
Marcaram horário
Sem precauções para o compromisso

O local, uma gruta
O clima, frio
Agora, a Cecília, muda
O caipira apenas sorriu

De amigos foram pra mais
Mais que qualquer relação comum
Amor de comprimento num cais
Aceitou-se até jejum

O prefeito percebendo a solidão
Mandou buscar sua ovelha
Mas tomada pela paixão
Disse "Não mais me tenha"

Cecília fugiu para o mato
Arranhou as pernas
O caipira ao seu lado
Também sofreu doença

Cansados da corrida
E longe do perigo
Deitaram embaixo da Bicuíba
O amor não mais reprimido

Nos braços de Morfeu
No céu azul, sem os pássaros
Cecília não percebeu
Que seu namorado estava sendo enforcado

Antes o prefeito havia chegado
E amordaçou o caipira, desacordado
Levou para outra árvore, o cabresto cerrado
E pendurou uma nova fruta, com lágrimas de orvalho

Cecília não sofreu dor física
Foi deixada pelo prefeito
Para passar pela pior parte de sua vida
Ao lembrar desse dia sangrento

Acordou e não viu o cravo
Correu para buscá-lo
Uma corda num galho
Pendia seu fruto, ex-namorado

Não caíram nem lágrimas
Não ouviram-se nem gritos
Nem lástimas
O pior coração sofrido

Da menina arrogante
Que queria apenas ser elite
Surgiu uma confessa errante
O amor nunca desiste.





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